segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Se tudo tenho, falta-me espaço para ser.

Quando permiti que uma luz desnecessária me ofuscasse, apaguei tua chama. Paraste de me falar e tudo que me deste foi uma sede absurda de palavras, de vontades e tinta. Como meus pensamentos não matavam essa sede - apenas aumentavam-na, decidi que se fosse assim não te queria mais por perto. Como se todo o teu valor e importância fosse baixado, estivesse no chão, junto comigo. Quis que ditasses o que eu queria ouvir, e esqueci que és como minha essência, não gostas de dizer palavras por conveniência, não gostas de gastar tua voz quando não se tem o que dizer. Então cruzaste os braços, e com isso, minha fúria aumentou. Vociferei, gritei, puxei meus cabelos, joguei coisas longe; aumentei minha sede.
Quanto mais eu te queria, mais te mandava pra longe com meu ato impertinente. Tuas palavras nunca me foram tão necessárias e ao mesmo tempo desprezadas. Até que, quando já não aguentava mais, rasguei minha roupa, e fiz dela uma bandeira branca. Demoraste um pouco para aceitar a paz. Esqueceste junto comigo como se sobrevive a ela, esqueceste junto comigo o seu significado. Mas enfim, vieste para perto, te instalei ao meu lado, e pedi, humildemente que me perdoasses, prometi que escreveria com total reverência o que quer que tu me ditasses.
 Começaste então com certa frieza. Disseste que fui ingênua, que esqueci meu propósito, que preocupei-me mais com o que era lido do que com o que era escrito. Aos poucos, tua voz foi tomando a tua característica paixão, tua peculiar necessidade de voz, de sentimento e de minhas mãos. No final, eu sentia-me completa. Haviam várias folhas espalhadas pelo tapete puído e velho, haviam várias palavras inventadas, vários traços desconhecidos e tortos, várias gostas de tinta usadas, dando forma e vida a algo que existia apenas ali. Minha sede havia ido embora. 

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