quarta-feira, 27 de julho de 2011

Cada lado do delta é uma base.

Estavam ali sentadas, com alguns trabalhos seus, alguns feitos por mãos desconhecidas, e até mesmo as coisas feitas por máquinas tinham vida. Não eram muitas coisas, não se podia viver só daquilo; da venda de antiguidades que apesar de valer muito para elas, eram vendidas por preços um tanto quanto baixos.
As três vagavam pelo centro da cidade dia após dia, até irem para outra cidade em busca de novos materiais, novas vidas dispostas a dar-lhes algo, e muito ganhavam com isso.
Novos e vários olhos cruzavam com os seus todos os dias, alguns lhes diziam algo, alguns demonstravam indiferença, alguns até mesmo pena. Estavam ali, mais por aprendizado do que por necessidade. Amavam poder sentir um orgulho tão pleno pelo que faziam, pelo que ofereciam e recebiam. Todos os dias pessoas lhes mostravam algo, pessoas que nem ao menos lhes conheciam, mas suas expressões em ver três jovens sentadas no chão, com violão, gaita de bota e bongos, vendendo coisas ao invés de "trabalharem de verdade", essas pessoas lhe mostravam o quão felizes eram.
Mas naquela tarde em especial, um homem de idade já avançada foi o professor, foi o ponto central do dia. Ele aproximou-se e observou algumas peças enquanto elas tocavam e cantavam, quando a que tocava gaita de boca parou para atender-lhe, ele perguntou com a humildade já extinta em muitos idosos, por que estavam ali, por que não estavam estudando ou fazendo algo realmente importante, algo que lhes proporcionasse um bom futuro.
- Estamos trabalhando senhor, ganhamos dinheiro tocando, cantando, vendendo essas coisas, ganhamos dinheiro dando aos outros o que amamos. Respondeu a morena com alguns colares e saia indiana escura, contrastando com a pele muito clara, também com a franqueza em seus olhos.
-Perdoem-me se parecer rude, mas vocês são jovens, isso não vai durar para a vida inteira, em algum momento terão que levar as coisas a sério.
-Não precisa desculpar-se, o que o senhor nos diz é importante, e sabemos disso, levamos nossas vidas a sério, algum dia elas irão acabar, mas até lá, podemos seguir amando e vivendo nossos dias, precisamos disso, esse é o nosso futuro e presente, não acredito que exista apenas uma forma de levar a vida a sério. -Foi a vez da morena com longos cabelos castanhos com reflexos dourados graças ao sol alaranjado, e o bongo na mão, responder.
-Entendo isso, mas e as famílias de vocês, os lares, os estudos, o equilíbrio, a estabilidade, onde estas coisas ficam?
-Ficam dentro de nós, ficam em seus lugares de grande importância, vou contar-lhe uma coisa, tenho minha religião, e a sigo com grande amor e fidelidade, tenho minha família e a respeito e amo com todas as minhas forças, já estudei, me formei e na hora que quiser posso largar isso e trabalhar em uma boa empresa, poderia ganhar um bom salário e teria então a certeza que daria para pagar as poucas contas que tenho; busquei meu equilíbrio, minha estabilidade, busquei paz, e só encontrei essas enquanto caminhava, enquanto distribuía o pouco que tinha com aqueles que me olhavam nos olhos e tocavam-me com suas palavras. É mais forte do que eu, do que nós. Respondeu à primeira.
-Entendo, vejo em vocês o que sentia quando era jovem, como se o amanhã fosse chegar depois de muito tempo, como se o hoje não interferisse no futuro, mas quando se chega mais longe, quando o corpo já não acompanha tão bem a mente, é possível, é mais fácil perceber quantos erros se comete quando se pensa assim.
- Entendo o senhor, e sei que cometo muitos erros, não vou dizer que sou grata a eles, mas prefiro errar fazendo o que sei, o que amo, prefiro errar enquanto busco o que me faz bem, seria muito doloroso cicatrizar aquilo que foi feito sem amor, que foi feito apenas por fazer. Disse-lhe a loira com o chapéu castanho escuro contrastando com seus olhos bem desenhados e com a cor do violão que segurava.
-Tudo bem, eu entendo e respeito esse amor de vocês, até porque não cometerão os mesmos erros que eu cometi, admiro sua teoria e a forma como colocam ela em prática. Inclinou-se com certa dificuldade e pegou um castiçal de cobre, observou-o - Quanto custa este?
- Quanto o senhor tem no bolso direito? Perguntou a morena de cabelos longos.
Ele enfiou a mão no bolso, com certa estranheza perante a pergunta, tirou apenas uma nota de cinco reais e mostrou-lhes.
-Custa cinco reais senhor. Disse a loira.
- Mas isso vale bem mais.
A moça da gaita sorriu e com prazer lhe respondeu.
-Vale sim, e é só dinheiro, podemos conseguir durante a semana, mas o que o senhor nos disse não vai ser repetido por mais ninguém. Quer que embrulhe?






"[...] Suponhamos que dois bombeiros entrem em uma floresta para apagar um pequeno incêndio. No final, quando saem e vão para a beira de um riacho, um deles tem o rosto coberto de cinzas, e o outro esta maculadamente limpo. Pergunto: qual dos dois vai lavar o rosto?
-É uma pergunta tola: evidente que será o que esta coberto de cinzas.
-Errado: o que tem o rosto sujo ira olhar para o outro, pensar que esta igual a ele. E vice versa: o que tem o rosto limpo verá que seu companheiro está com fuligem por toda parte, e daí dirá a si mesmo: devo também estar sujo, preciso lavar-me."

domingo, 24 de julho de 2011

Pelo seu nome correto.

Lembrei-me daquele dia de sol, dos olhos profundos e tão queridos que me fitavam.

- Já sabes pra onde vais daqui?
-Gosto do jeito que tu fala, são poucos os que falam dessa forma, correta, mas natural.
-Por que não respondes à minha pergunta?
-Porque senti vontade de te dizer isso. Não sei pra onde vou, só sei que pretendo continuar viva para decidir isso mais tarde.
-Se depender de mim, vais ficar viva por mais muito tempo, sinto que tenho que te proteger, que apesar da tua força, de tudo que vem de ti ser tão grande, tu é frágil, por estar tão aberta o tempo todo.
-Sei disso, e durante um determinado tempo isso me assustou, pensei que seria mais fácil sabe, mas depois dos primeiros tombos sem mãos para me levantar, as coisas tornaram-se mais fáceis de suportar, não de deixar de lado, mas de suportar a dor que algumas causam. A felicidade e sensação de pureza, de liberdade compensa.
-Acredito nisso, essa não é só uma sensação, é a liberdade em si, em sua forma essencial.
-Ela não me assusta.
-Já te assustou alguma vez?
Houve um silêncio, como se as palavras estivessem pairando no ar, como se esperassem ser postas em ordem.
-Já sim, mas não era a liberdade, era uma só uma sensação que veio tão rápido quanto foi. Não era real. Não precisei buscá-la, e isso me assustou. Quando percebi, tive certa dificuldade pra voltar atrás, pra voltar a ser o que era, mas não tive dificuldade pra ver que não era o que eu buscava. É muito diferente do que sinto agora, isso é bom, é inundado por luz, alegria mesmo, aquilo não era, mas me ensinou algo.
-O que?
-A não buscar atalhos para o que é preciso o caminho completo, quero dizer, sabedoria, liberdade e amor andam juntos com o tempo, eles são irmãos, um precisa do outro; sem tempo tu não ganha sabedoria, sem sabedoria, teu tempo não vale nada, ele só existe por que algum relógio diz isso. Tu só vives por que precisa te alimentar, precisa ganhar dinheiro, precisar ser educado para com aqueles que te cercam e assim por diante. Mas e a busca por algo maior do que tu já tens? Não falo do material, mas daquilo que te inspira amor, fé, vida.
-Os erros nos ensinam muito mesmo.
-Não concordo, não acredito que são exatamente os erros que nos ensinam. Eles tornam-se "anticorpos", mas o que realmente te ensina é a sensação de impotência, é saber que tu não podes voltar atrás, mas que se tu seguir em frente haverão outras chances pra te redimir, fazer com que os ganhos, os sorrisos, as bênçãos que tu recebe, sirvam de borracha para os erros lá de trás, e aos poucos o que vai ficando é a gratidão, não por ter errado e aprendido que se tu fizer tal coisa, tal coisa vai te acontecer, mas tu te torna grato por ter conseguido olhar mais pra frente do que pra trás, tu vai aprender que gratidão também é sinônimo de alegria.
-Tu falas de uma forma, como se já tivesse vivido tanto, como se já tivesse conhecido tantas pessoas e teorias, mas o que tu dizes é tão teu. Tu falas com uma força emanando de ti, mas ela é delicada, é suave de uma forma que eu não sei explicar.
Eu ri, deliciei-me com a expressão dele, ri até ele começar também, ri até meus olhos encherem-se de lagrimas, a água que sempre me nutriu, fossem elas felizes ou não



Thank you.
"Tive uma vida feliz e agradeço ao Senhor. Adeus, e que Deus abençoe a todos. Para chamar cada coisa pelo seu nome correto. " (Alex Supertramp)

With the peace comes the freedom.

Queria poder te contar das minhas coisas, queria poder te falar da importância do que amo, e do desinteresse que sinto por aquilo que me é imposto por quem não me conhece. Queria poder estourar meus pulmões gritando para o mundo que essa sou eu, que não quero agradar quem não me interessa, quero apenas seguir em frente, carregando apenas o necessário para mais um dia, quero aprender e ensinar, quero um lugar que me seja concedido ver o céu por inteiro.
E por que não posso? Me diz, se conseguires me dar uma razão que seja tua, que sirva pra mim e não para a humanidade inteira, se conseguires me responder algo que eu ainda não tenha ouvido, sossegarei, me sentarei como quiseres, usarei a cor que quiseres, direi o que te convém, serei quem desejares que eu seja. Mas tu não pode fazer isso, porque eu tenho todo direito de querer jogar tudo pro alto pelo menos uma vez, eu tenho todo direito de viver sem esse maldito veneno que a sociedade me proporciona com exagero, eu tenho todo direito de desejar viver sem esse tanto que é sinônimo de nada, eu tenho todo direito de te dar as costas agora, porque aquilo que me sufoca é invisível, não existe se eu for mais forte se eu não o quiser, e eu não quero, e só agora tive força e coragem pra dizer isso em voz alta, tive que repetir isso, até me ver aos gritos, sorrindo e chorando ao mesmo tempo, então por favor, não tenta me fazer voltar, eu não vou, me trairia se o fizesse.

"Olhe em meus olhos e eu farei você ver,
nós estamos andando sem rumo,
Cegos no mundo do faz de conta.

Escute eles cantando suas canções fora do ritmo
e não como eles concordam,
comprando a necessidade de ser discreto...

E qualquer coisa que faça você ver, faça você acreditar
e esqueça sobre a premonição que você precisa conceber,
as imagens que eles vendem são ilusões e sonhos
em outras palavras desonestidade...

Não resolve nada vestir isso em um lindo vestido,
Você ainda vai afogar-se,
então você sabe o que me leva além,
fora da minha mente."

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quem nesse mundo faz o que há durar.

Que haja amor onde quer que a gente vá.
Que haja riso, mas que sejamos fortes o suficiente para dar direito as lágrimas.
Que haja sol, mas que as gotas que caem do céu nos purifiquem .
Que haja música, e que a dança seja nossa voz e vez.
Que nossos heróis sejam fortes como somos.
Que haja força, mas que a suavidade seja maior e mais intensa.
Que haja felicidade, ainda que o caminho para chegar até ela seja tortuoso e escuro.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Onde estiver teu tesouro, aí estará teu coração.

Depois de vagar pelo centro da cidade, sob a chuva, pensando em como sentia-se bem daquela forma; parou diante da praça que nunca foi sua preferida, mas que agora parecia ter sido criada para si, a praça enorme estava vazia. Havia apenas um homem, que ela não demorou muito para reconhecer, ele estava recolhendo seus instrumentos, estava quase pronto pra ir embora.
-Tu não toca mais hoje? Perguntou ela sem timidez ou receio algum, apenas com um sorriso sincero nos lábios.
-Acho que não porque?
-Já ouvi falar muito ta tua música, gostaria de também ser tocada por ela. Mas outro dia eu volto. Boa tarde.
Ela seguiu a diante com uma alegria tão serena que era quase inacreditável.
- Espera, se tu quiser, posso tocar pra ti. Disse ele com uma franqueza quase palpável.
-Eu adoraria.
Ele terminou de recolher suas coisas do chão, sentaram-se num banco um pouco mais protegido da chuva e ele começou a tocar e a cantar. Enquanto o ouvia, teve certeza de que seria sempre assim, ainda que o tempo lhe endurecesse e fizesse um pouco amarga, sempre amaria essas pessoas, ainda que desconhecidas, mas que lhe oferecessem algo realmente importante. Ela começou a chorar, o choro mais triste que existe, aquele que são só lagrimas, aquele que diz mais do que qualquer soluço. Ele percebeu, mas não parou, foi até o final, e só quando a musica terminou ele lhe encarou. Houve silêncio, não aquele constrangedor, mas o que demonstra cumplicidade, o que demonstra um afeto sincero.
-Porque estas chorando? Perguntou ele com total certeza que tinha esse direito.
-Por gratidão, por felicidade, por tristeza, pelo sentimento mais bonito que existe.
-Mas que as vezes machuca não?
-Sim, mas estou incrivelmente bem, tua musica é mesmo mágica, e não só porque tu faz isso bem, mas porque tu tem muito a dizer, tu tem muito a ensinar, porque tenho certeza que tu poderia estar engravatado ganhando muito dinheiro, mas tu quer estar aqui.
-"Onde estiver teu tesouro, aí, estará teu coração". É mais ou menos isso.
-Sim, e te admiro sinceramente por fazer isso. Sabe, eu li uma vez, que os mendigos escolhiam ser mendigos, renunciavam a coisas fúteis, se negavam a trabalhar durante uma vida inteira para dar dinheiro aos que governavam com corrupção, não queriam ser regidos por quem nem ao menos importava-se com eles, entre outros motivos que para muitos seriam absurdos. Não entendo e nem concordo plenamente com isso, acho que não se deve generalizar, mas me ajuda a entender uma parte desse mundo estranho.
- Eu entendo, e tens razão, eu poderia sim estar ganhando muito dinheiro, como fiz durante um certo tempo da minha vida, mas com isso não veio nada, veio apenas um poder que eu sinceramente não queria, veio uma liberdade financeira que cortava minhas asas, veio uma tristeza tão grande quanto o monte que se juntava na minha cota bancária. Então resolvi largar tudo, e tinha sim muito a perder, porque se não tivesse, largar tudo não faria sentido. E não é fácil não, pelo contrário, por mais forte que tu acredite ser, tua força, teu amor, tua fé e tudo que tu acredita é testado, e quer saber o que me ajuda a seguir? Momentos como esse.
-Não nos conhecemos, mas estamos falando de coisas difíceis de se falar.
-Exato, isso me mostra o que tu me disse antes, tenho muito para falar e ensinar, mas além disso tenho muito mais para aprender, e sou grato por isso.
Os dois conversaram por mais um bom tempo, sobre tudo que lhes era importante, sem nem ao menos pensar em perguntar se conseguiriam ver-se outro dia. Era aquilo que importava, era isso que eles precisavam, eram duas pessoas estranhas que sentiam-se gratas uma pela outra, e assim seria até um precisar ir embora, assim seria cada vez que eles lembrassem daquela tarde chuvosa.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Odisséia

- É fácil falar, quem sabe até visualizar, mas por em pratica é bem mais complicado, é realmente difícil.
- Errado, é difícil até mesmo falar sobre deixar a história pessoal de lado pra quem realmente se importa e busca isso, porque? Porque falar sobre algo que não se entende plena e claramente, mas que lhe é importante e difícil, proporciona um  medo de dar uma passo em falso que é tão grande quanto a força necessária para se conseguir.  
-Então tu conheces tudo sobre isso? Me perdoa se parece ironia da minha parte, mas seria a única resposta. 
-Não, eu não conheço praticamente nada, conheço da mesma forma que tu, conheço como qualquer ser humano, mas quer saber o que me faz falar sobre isso? A crença de que falar é um dos passos para que algo se torne real. Falar é o terceiro passo, pensar é o segundo, e o primeiro, o mais difícil, sentir.
-Não faz sentido, não se pode sentir algo sem antes pensar sobre esse algo, ter ideia que ele existe. 
-Claro que não faz sentido, e vou te dizer uma coisa, uma das mais importantes, se tu queres aprender algo, esquece esse sentido plantado em ti por outras pessoas, tu ainda é jovem o suficiente, se resolveres jogá-lo fora agora, não vai doer tanto. Cria o "teu sentido", não acredita nas coisas que os outros querem que tu acredites, mas no que te inspira amor.
-Então eu devo desacreditar em tudo que me ensinaram? Essas coisas fazem parte de mim, não teria como seguir em frente sem tudo que me ensinaram. 
-Não sejas tão oito ou oitenta. Eu não disse que deves esquecer o que te foi ensinado, as pessoas são sábias quando se trata dos problemas alheios, e muitas vezes acertam, mas o que serve pra mim, para a minha visão de vida, talvez não sirva pra tua. Mas antes me deixa voltar aos passos para que algo seja consolidado, posso seguir?
-À vontade. 
- É totalmente possível sentir antes de conhecer, sentir não é saber, mas elevar-se, abrir-se para algo de fora, ou até mesmo de dentro. Entenda, não quero dizer que sente-se tudo com facilidade, que é fácil dominar um sentimento, não é, eles não gostam disso, gostam de ensinar-lhe da forma que acham melhor, e assim o fazem, ainda que tu não queira. 
Quando tu te permite sentir algo, pensa sobre isso, analisa e tenta entender o que significa, ou então deixa de lado, como se não fosse importante. Podes muito bem ignorar um sentimento, torná-lo sem valor, e se assim fizer, ele voltara sem tanta força, sem intensidade e talvez tu o esqueça de vez.  Caso contrário, ele vai voltar e te dar a oportunidade de senti-lo mais preparada, e então falar sobre ele, e isso vai te inspirar a buscá-lo. 

***

Odisséia II

***

- E onde isso se aplica em "esquecer minha historia pessoal"?
-Vamos esclarecer algo, esquecer a tua historia pessoal, não quer dizer esquecer o que tu aprendeu semana passada ou anos atrás, esquecer como se cozinha determinado prato ou até mesmo como foi a dor de perder alguém amado. É permitir deixar o que se acumulou durante anos, é permitir amar o novo como amas o velho, o que te ensina e o que te faz querer sair deste mundo. Se tu te permitires amar um outro homem além do que te acompanha o que vai acontecer?
- O que me acompanha vai querer me deixar, vai achar que não é amado. E sinceramente não acredito que é possível amar duas pessoas da mesma forma. 
-Não te perguntei o que aconteceria se se tu amasse duas pessoas da mesma forma, e era isso que queria te mostrar, as pessoas deduzem as coisas, acreditam que sempre tudo será da mesma forma, e se mudar, a grande chance é de que seja pra pior. Então acreditam ser mais fácil manter-se num escuro que lhe ofusca os olhos, que lhes proporciona alimento quando sentem fome, lhes proporciona calor quando sentem frio, lhe proporcionam respostas dadas a todos com a mesma pergunta, ainda que cada um tenha sua forma de entender, ainda que cada um tenha seus próprios e únicos sentimentos.
Acredite, sei que as pessoas buscam equilíbrio, elas pregam e dizem amar esse equilíbrio, não vou dizer que no fundo querem algo diferente por que não conheço todas, não sei o que se passa em seu espírito, sei apenas o que elas me contam, mas me diz o que há de tão atrativo nesse equilíbrio.
-Não sei, não busco ele, e sabe que não buscar isso muitas vezes me magoa, me machuca, estou exposta a muitas coisas que não precisava sentir ou viver, mas eu as busco, eu as quero pra no fim poder dizer que vivi elas e foram ruins, ou boas, depende do ponto de vista e de como eu as recebi.
- O que atrai é a falta de tanta dor, é a paz que essa ausência proporciona. E isso pode durar por anos, pode te fazer feliz por muito tempo, mas em algum momento vais perceber que muitas coisas ficaram para trás, vais perceber que em algum dos sorrisos já tão comuns no teu dia-a-dia, uma lágrima caiu, e que ela representava as experiências, os amores e desamores deixados de lado, ela representa minutos importantes perdidos, e então a paz da lugar a frustração, ainda que serena, as perguntas nunca antes pronunciadas são postas no lugar da felicidade, e as lágrimas no lugar dos sorrisos. 
-Queres dizer que esse equilíbrio não existe, não é bom e nem duradouro?
- Tuas perguntas se contradizem, repete elas mentalmente e verás, mas vou te responder. Sim, esse equilíbrio existe, sim, ele é bom e pode ser duradouro, ele pode ser alcançado por aqueles que buscam sempre novas experiencias, por aqueles que não se contentam com apenas o fácil o visível, ele pode ser alcançado e usufruído com grande sucesso por cada um. Mas é difícil, ele pode facilmente se transformar em tédio se não souberes usá-lo, ele pode ser confundido por aqueles que não tentam entendê-lo plenamente. E isso assusta-nos, nos afasta dele. Espero que tu entenda que não digo que esse equilíbrio não é bom, não quero te fazer acreditar que ele não trás felicidade verdadeira, ele trás, e acredito fielmente nisso, mas é muito difícil, e a maioria das pessoas buscam ele, acreditando que é o caminho mais fácil, e possivelmente quando perceberem que não era o caminho mais fácil, já terão ido longe demais, terão esquecido como voltar. 
-Acho que entendi.
-Então amanhã tu me conta o que aprendeste, já chega por hoje. 

With freedom comes the peace.

          

terça-feira, 12 de julho de 2011

Aurora


Voltou para casa após algumas horas andando pela cidade, procurando, pensando em onde se meteu, em onde se perdeu. Percebeu a mudança de espírito, percebeu que se essa partida não houvesse acontecido ela estaria ainda mais longe, e pela primeira vez não quis ir tão rápido e nem tão forte, quis apenas ser quem era antes, tendo a certeza de que o que ganhou de bom com isso ficaria. Teve a certeza de que novas mensagens seriam enviadas através dos seus olhos e boca.Assim como o sol que nascia agora, ela o observava sozinha e com outros olhos, não era mais um dia, uma simples esperança de que a noite acabasse, era um novo dia, uma nova oportunidade para viver, para amar a si mesma como ela não amava a muito tempo, era também o fim de mais uma noite, mas essa não torturou-lhe tanto quanto as ultimas vinham fazendo, essa lhe proporcionou serenidade.Percebeu quão duras foram as palavras proferidas por uma boca que apesar de fazer parte do corpo que chamava de seu não era sua. As coisas saíam e ela não queria conter-lhes, como se fosse grande o suficiente para não se importar com as navalhas escondidas nas palavras -tão naturais; que machucavam aqueles que lhe faziam ficar em equilíbrio. Equilíbrio esse que foi substituído por intensidade, por paixão e até mesmo raiva, por tudo que lhe fizesse sentir poder, força, mas também o vazio, tão grande e gritante quanto ela estava-se tornando.  
Fechou os olhos diante do céu alaranjado, visualizou a noite, as lágrimas, a música, visualizou a si mesma e só então percebeu que estava de volta, com a mesma insegurança de muitas vezes, com o mesmo amor por coisas inexplicáveis para muitos, com uma humildade que se manteve distante por algum tempo, pode visualizar claramente a claridade em volta de si, a paz que há muito não envolvia-lhe desta forma. Abriu os olhos, e foi como se uma lente fosse tirada diante deles, ela se desgastou, lutou sem perceber, quis voltar mas se acomodou, até que foi preciso outros olhos lhe mostrarem que se fosse mais longe não teria atalho para voltar, foi preciso sofrer e amar de uma forma desconhecida, foi preciso que a pureza de um coração lhe puxasse de volta.
Olhou para o céu, e agora sim, foi em agradecimento, em um silencioso pedido de perdão, em alegria e amor  a si e a luz que inconscientemente buscou. 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O antônimo de efêmero.

Sim, essas somos nós, são os nossos princípios, as nossas palavras, a nossa força e amor emanando com uma clareza tão absurda quanto real. Nós não vamos nos permitir nunca jogar palavras desnecessárias ao vento, nós não vamos nos permitir falar àqueles que não se importam. Vamos crescer, ainda mais, vamos mudar, com grande orgulho, vamos amar com maior compreensão. Vamos impedir que nossas vidas sejam efêmeras, que elas não sejam nossas. Vamos ser nós mesmas a cada minuto, a cada palavra e olhar de admiração ou estranheza dos outros. Vamos seguir mostrando e descobrindo que não viemos juntas até aqui para apenas ser felizes, vamos provar para as únicas pessoas que merecem alguma prova nossa (nós mesmas), que não há nada que seja impossível. E não precisaremos de muito para isso, apenas de nossos espíritos e mentes abertos, de nossos corpos para executar o que quisermos, de fogo para aquecer aqueles que sofrem pelo frio, de nosso riso para contagiar os que são consumidos pelo tédio e indiferença. Precisaremos do tempo, de cada minuto e centelha de luz, para que sejamos nossas, e de tudo que nos pertence, para que sejamos eternas como essa força que nos envolve e move.





quarta-feira, 6 de julho de 2011

I don't need a Mercedes Benz.

As vezes a lucidez me alcança por mais rápido que eu corra. Me acerta em cheio e não há voz, não há beijo e nem mesmo cristal, não há nada que me livre dela. Fujo sim, e sem culpa. Ela me faz colocar os pés no chão e a mente em tudo que me aliena. Ela me impede de ser quem eu quero, quem eu busco e amo.
Sei que não faz sentido, e gosto assim, gosto de fazer com que as coisas pareçam confusas para aqueles que não tentam entendê-las, gosto de estar diante daqueles que sentem e vivem o que pregam a um mundo que não os entende e nem aceita plenamente. E a lucidez é minha inimiga nesse aspecto, ela quer que eu me fixe, como uma mãe que apenas busca o equilíbrio de um filho estranho. Sou esse "filho estranho", e com grande orgulho e esforço. Não me incomodam mais os olhares de estranheza, nem mesmo a vontade de falar quando todos dizem que não devo, não me importa se tu come com os cotovelos acima da mesa, me importa se passa pela tua cabeça quão sortudo tu é por ter comida. Não me importa se tu usou o mesmo casaco durante vários dias, me importa se tu tem noção de quantas pessoas morrem de frio todos os dias. Então, me diz o que tu quer e faz por que se tu quiser posso te dizer também, mas não me faz ficar sentada, com as pernas cruzadas como uma mulher delicada ouvindo tu dizer algo que não é sincero, te ver me dando respostas que já passaram de cabeça em cabeça até chegar na tua, mas que não passaram por coração nenhum.  Isso é maçante e tão estúpido quanto desnecessário. Então, me faz querer te ouvir, me faz prestar atenção no que tu diz por que me interessa e não por polidez, eu seria consumida pela hipocrisia se te ouvisse apenas por educação.


"I'd like to do a song of a great social and poetical import"













sexta-feira, 1 de julho de 2011

Te desejo o nirvana.

Não sei se ainda pode ser considerado um parabéns, mas ainda assim, queria te agradecer, sim, agradecer com a maior sinceridade, por ter dividido comigo teus medos e fraquezas, felicidades e risos tão contagiantes; por ter me permitido fazer parte da tua vida e por ser parte tão essencial da minha, de mim. Obrigada por me mostrar que uma pessoa pode sim, ter o pé no chão, mas ser tão sensível, tão sonhadora, e que esse pé no chão só faz com que ela busque com toda a garra o que quer. Tenho um orgulho indescritível de ti, de tudo que nos tornamos juntas e ensinamos uma para a outra, de todos os sonhos e planos, que mesmo se não realizarmos me fizeram e fazem crescer, e fazem com que eu sinta vontade de que esse crescimento seja ao teu lado, por que só assim ele me é importante, só assim me é valido e verdadeiro.
Mais uma vez, parabéns, por tudo que tu é e inspira nas pessoas a tua volta, por tudo que tu busca e almeja, por ter a força necessária pra ser quem tu é, sem se importar com o que aqueles que não entendem teu espirito, mente e amor podem pensar. Felicidade é o minimo que eu posso te desejar, desejo então que estejamos sempre juntas para desfrutar dessa felicidade, e juntas e fortes o suficiente pra passar por cada problema e momento ruim no caminho.
Então, que o pingente que tu carrega no pescoço sempre seja capaz de te lembrar a beleza, a pureza e nobreza que tu carrega contigo, que os cristais, os músicos, a dança, o sol, o riso, nós e tudo mais que tu tanto aprecia sempre estejam na tua mente, que tu os ame com profunda sinceridade, como faz agora.
Te amo.