sábado, 10 de setembro de 2011

A fada do meu botequim






É aquela mesma sensação de início. Seja o início de um livro que te prendeu da capa ao fim, seja a frase de um mero desconhecido, seja o início de uma vela que observas queimar até seu fim. Seja o movimento da tua saia em volta de ti enquanto rodopias de pés descalços e mente alta.
É aquela inspiração em demasia, o ar em excesso, a música que toca a fresta mais escondida do teu espírito. É a dança que te faz mexer o mais insignificante centímetro de teu corpo, é a poesia mais triste, o sentimento mais efêmero e intenso, é a voz mais grave e doce, a luz que mais longe vai, a imensidão que se estende diante de teus olhos.
É o amor que não escolhe, a paixão que não suporta, a beleza que não dura, a vontade que não acaba, a vida que é ditada por bocas desconhecidas, o ser que não está aqui.
É a gaita que chora no ombro do violão, a arte que desconhece a razão, a cor que de tanto ser olhada desbota, o som que de tanto ser ouvido se cala. É o liquido que eleva sem lembrar-te da queda, a fumaça que envolve sem estar presente, a vida que desconhece os dias, a boca que desconhece o beijo, a emoção que anda de mãos dadas com a frieza. O conselho saído da boca do indulgente, o hino mais eloqüente. A mão mais ávida em abrir-se, os pés que tem como combustível a estrada, os olhos que tem como sua menina a vida. O poeta que como musa tem o intocável. O romance que não precisa de dois. O céu que chora seu azul, os fragmentos daqueles que se doam sem esperar seus pedaços de volta. As pessoas conhecidas em curvas inesperadas, os planos jogados pro alto, os mapas em palmas de mãos. As vontades escondidas, os esconderijos descobertos, a multidão que segue só, o alimento que não sacia, o corpo que clama por espírito.


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