domingo, 24 de julho de 2011

Pelo seu nome correto.

Lembrei-me daquele dia de sol, dos olhos profundos e tão queridos que me fitavam.

- Já sabes pra onde vais daqui?
-Gosto do jeito que tu fala, são poucos os que falam dessa forma, correta, mas natural.
-Por que não respondes à minha pergunta?
-Porque senti vontade de te dizer isso. Não sei pra onde vou, só sei que pretendo continuar viva para decidir isso mais tarde.
-Se depender de mim, vais ficar viva por mais muito tempo, sinto que tenho que te proteger, que apesar da tua força, de tudo que vem de ti ser tão grande, tu é frágil, por estar tão aberta o tempo todo.
-Sei disso, e durante um determinado tempo isso me assustou, pensei que seria mais fácil sabe, mas depois dos primeiros tombos sem mãos para me levantar, as coisas tornaram-se mais fáceis de suportar, não de deixar de lado, mas de suportar a dor que algumas causam. A felicidade e sensação de pureza, de liberdade compensa.
-Acredito nisso, essa não é só uma sensação, é a liberdade em si, em sua forma essencial.
-Ela não me assusta.
-Já te assustou alguma vez?
Houve um silêncio, como se as palavras estivessem pairando no ar, como se esperassem ser postas em ordem.
-Já sim, mas não era a liberdade, era uma só uma sensação que veio tão rápido quanto foi. Não era real. Não precisei buscá-la, e isso me assustou. Quando percebi, tive certa dificuldade pra voltar atrás, pra voltar a ser o que era, mas não tive dificuldade pra ver que não era o que eu buscava. É muito diferente do que sinto agora, isso é bom, é inundado por luz, alegria mesmo, aquilo não era, mas me ensinou algo.
-O que?
-A não buscar atalhos para o que é preciso o caminho completo, quero dizer, sabedoria, liberdade e amor andam juntos com o tempo, eles são irmãos, um precisa do outro; sem tempo tu não ganha sabedoria, sem sabedoria, teu tempo não vale nada, ele só existe por que algum relógio diz isso. Tu só vives por que precisa te alimentar, precisa ganhar dinheiro, precisar ser educado para com aqueles que te cercam e assim por diante. Mas e a busca por algo maior do que tu já tens? Não falo do material, mas daquilo que te inspira amor, fé, vida.
-Os erros nos ensinam muito mesmo.
-Não concordo, não acredito que são exatamente os erros que nos ensinam. Eles tornam-se "anticorpos", mas o que realmente te ensina é a sensação de impotência, é saber que tu não podes voltar atrás, mas que se tu seguir em frente haverão outras chances pra te redimir, fazer com que os ganhos, os sorrisos, as bênçãos que tu recebe, sirvam de borracha para os erros lá de trás, e aos poucos o que vai ficando é a gratidão, não por ter errado e aprendido que se tu fizer tal coisa, tal coisa vai te acontecer, mas tu te torna grato por ter conseguido olhar mais pra frente do que pra trás, tu vai aprender que gratidão também é sinônimo de alegria.
-Tu falas de uma forma, como se já tivesse vivido tanto, como se já tivesse conhecido tantas pessoas e teorias, mas o que tu dizes é tão teu. Tu falas com uma força emanando de ti, mas ela é delicada, é suave de uma forma que eu não sei explicar.
Eu ri, deliciei-me com a expressão dele, ri até ele começar também, ri até meus olhos encherem-se de lagrimas, a água que sempre me nutriu, fossem elas felizes ou não



Thank you.
"Tive uma vida feliz e agradeço ao Senhor. Adeus, e que Deus abençoe a todos. Para chamar cada coisa pelo seu nome correto. " (Alex Supertramp)

Um comentário:

  1. "Mas não era a liberdade, era uma só uma sensação que veio tão rápido quanto foi, não era real. Não precisei buscá-la, e isso me assustou.[...].É muito diferente do que sinto agora, isso é bom, é inundado por luz, alegria mesmo, aquilo não era, mas me ensinou algo."

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