terça-feira, 12 de julho de 2011

Aurora


Voltou para casa após algumas horas andando pela cidade, procurando, pensando em onde se meteu, em onde se perdeu. Percebeu a mudança de espírito, percebeu que se essa partida não houvesse acontecido ela estaria ainda mais longe, e pela primeira vez não quis ir tão rápido e nem tão forte, quis apenas ser quem era antes, tendo a certeza de que o que ganhou de bom com isso ficaria. Teve a certeza de que novas mensagens seriam enviadas através dos seus olhos e boca.Assim como o sol que nascia agora, ela o observava sozinha e com outros olhos, não era mais um dia, uma simples esperança de que a noite acabasse, era um novo dia, uma nova oportunidade para viver, para amar a si mesma como ela não amava a muito tempo, era também o fim de mais uma noite, mas essa não torturou-lhe tanto quanto as ultimas vinham fazendo, essa lhe proporcionou serenidade.Percebeu quão duras foram as palavras proferidas por uma boca que apesar de fazer parte do corpo que chamava de seu não era sua. As coisas saíam e ela não queria conter-lhes, como se fosse grande o suficiente para não se importar com as navalhas escondidas nas palavras -tão naturais; que machucavam aqueles que lhe faziam ficar em equilíbrio. Equilíbrio esse que foi substituído por intensidade, por paixão e até mesmo raiva, por tudo que lhe fizesse sentir poder, força, mas também o vazio, tão grande e gritante quanto ela estava-se tornando.  
Fechou os olhos diante do céu alaranjado, visualizou a noite, as lágrimas, a música, visualizou a si mesma e só então percebeu que estava de volta, com a mesma insegurança de muitas vezes, com o mesmo amor por coisas inexplicáveis para muitos, com uma humildade que se manteve distante por algum tempo, pode visualizar claramente a claridade em volta de si, a paz que há muito não envolvia-lhe desta forma. Abriu os olhos, e foi como se uma lente fosse tirada diante deles, ela se desgastou, lutou sem perceber, quis voltar mas se acomodou, até que foi preciso outros olhos lhe mostrarem que se fosse mais longe não teria atalho para voltar, foi preciso sofrer e amar de uma forma desconhecida, foi preciso que a pureza de um coração lhe puxasse de volta.
Olhou para o céu, e agora sim, foi em agradecimento, em um silencioso pedido de perdão, em alegria e amor  a si e a luz que inconscientemente buscou. 


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