terça-feira, 16 de agosto de 2011

Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom.

Já disse; não volta, poupa a nós mesmos.
Te coloquei pra fora do meu quarto, da minha casa, pra fora de mim. Fui ontem ao sebo, e troquei os livros que me deste, vendi os CDs, joguei longe o abajur e as tuas preciosas garrafas, coloquei azeitona na salada e lembrei da tua careta, ouvi o blues mais puro que conheço e lembrei de ti, vesti aquela roupa que odeias e quis desesperadamente que tu me visses. Não me pergunta o porquê disso querido.
Não faz mais diferença. Fui egoísta mesmo, com um prazer que poucas vezes senti enquanto fazia algo que não era necessariamente o melhor.  Me ensinaste isso, me disseste com teus atos que eu tinha todo direito de jogar tuas coisas fora, assim como fizeste com as minhas, tem apenas uma diferença: as coisas que me pertenciam e que jogaste fora, não são palpáveis, e ainda assim, não deste valor a elas.
Lembrei do dia em que puseste tuas tralhas todas (com certa dificuldade; já que a essa altura não sabíamos mais o que era teu e o que era meu), no fusca e disseste que não voltarias mais, que estava de saco cheio das minhas manias e problemas, não precisava carregá-los, eu que me virasse. Lembra quando foi? Quanto tempo demorou para tirá-las novamente do porta-malas pequeno e voltar gargalhando?
Então, faz bastante tempo, tanto que nem lembro direito quando foi. Só do teu riso enchendo a sala, lembro apenas da música que nos envolvia e aproximava cada vez mais enquanto colocávamos as coisas no lugar, lembro da bandeira branca que foi levantada naquele dia, pra ser baixada no dia seguinte por um CD riscado.
Agora, não me faz querer te esquecer, deixa tuas coisas, ou leva tudo que quiseres, mas sai logo daqui, antes que eu mude de idéia, antes que teus braços me chamem de novo. Sai logo, sai rápido e sem a menor discrição, vê se faz bastante estardalhaço. Não esquece nenhum detalhe da casa, nem de mim, não esquece as histórias e nem os gritos, as coisas quebradas em momentos de raiva ou alegria, não esquece as cores das paredes, não esquece de trocar a agulha do toca-discos antes de sair, não esquece das lágrimas e sorrisos que tomam conta do meu rosto agora. Não esquece de mim, e nem de ir embora.


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