Levantei, vesti a camisa enorme que pertencia ao dono dos meus pensamentos, fui até a janela que dava para uma enorme figueira, que tinha o tamanho proporcional a solidão que me consumia. E sai, acreditando que o frio me faria acordar, me faria respirar, seria como um beliscão que me afastaria de todos pesares e dores. E não foi exatamente o frio que me acordou, mas aquela sensação de ser observada com cuidado, ter cada detalhe de si conhecido. Ele estava ali, sentado com a cabeça apoiada nas mãos, num gesto de total impotência, de uma forma que eu nunca tinha visto, os braços que antes eram o meu melhor escudo, agora se balançavam acompanhando os soluços surdos que emanavam dele. Foi doloroso vê-lo assim, foi inacreditável e desconcertante. Fui até ele e o abracei, sem esperar retorno nem aceitação, apenas fiz o que meu corpo mandou e inesperadamente ele me abraçou como uma criança que perdeu algo, como um ser que sente a mais cruel dor.
Então, só então eu soube que apesar de toda solidão que senti, eu não estava sozinha, ele sentiu o mesmo e doeu tanto quanto em mim e isso de alguma forma nos ligou ainda mais.
Pois bem, ele estava de volta, com os pedaços de mim que levara junto quando foi embora, com minha luz e força nas costas, como uma mochila carregada com certa dificuldade, mas que estava la o tempo todo.
Ouviu-se um "eu te amo", não sei se fui eu quem disse, ou ele, mas foi dito, e dizimou qualquer sombra e dor.
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