Eram 4:00 da manhã, era a terceira caneca de chá em duas horas, e era mais uma noite em claro, esperando que a claridade que timidamente atravessava a persiana semifechada clareasse a mente que naquele momento ela acreditava ser a mais confusa da face da terra. Sentiu raiva de si mesma por se ver naquele estado de esperança contida, de um tristeza tão serena quanto a chuva que tornava o momento ainda mais memorável.
Não importava o que ela fizesse, o que ela pensasse ou ouvisse, sentia raiva por não saber qual era o lugar em que poderia se proteger daquela maldita dor interior.
Passou mais uma hora, e ela tão desperta quanto os mosquitos que entraram graças aos seus devaneios olhando para a lua. Levantou, no escuro foi até a janela e fechou o vidro, procurou uma lata de inseticida e só então lembrou que a ultima foi jogada nele no dia anterior. Com mais raiva ainda, saiu para a rua, esperando ser acompanhada pelo enorme cão que lealmente ficava do ao seu lado, mas ele se limitou a apenas abanar o rabo, num pedido de desculpa.
Tudo bem, eu nem sei porque vou sair. Pensou ela enquanto se dirigia para fora do trailer que lhe servia de casa a anos. O perfume que lhe conduziu até o jardim era tão inconfundível quanto a música que vinha do carro antigo e tão familiar parado no meio fio. A primeira reação foi gritar pra que ele fosse embora, se munir de um semblante que deixava claro que não queria vê-lo, tê-lo por perto, mas não era verdade, ela queria e apesar da raiva, ela sentia necessidade de sentir-lhe a respiração ou qualquer outra coisa que lhe fizesse saber que o tinha consigo. Foi até o carro, bateu no vidro, e só então percebeu que ele estava dormindo no bando de trás, enrolado num cobertor que mal o tapava inteiro. Bateu mais uma vez, e ele não acordou, Tentou abrir a porta do carro, e não se sentiu surpresa por ela estar aberta. Entrou e sentou, observando o quanto ele lhe havia feito falta, o quanto observá-lo dormir lhe acalmava e lhe dava um prazer tão grande quanto seu toque.
Esse seria um nascer do sol diferente dos últimos, com a luz o sol traria mais paz ao invés de uma escuridão tão densa quanto palpável.
Ele acabara de abrir os olhos, sorria para ela e não precisou de muito esforço para tomá-la nos braços e fazer com que ela se sentisse completa de novo. Era isso que ele fazia de melhor.
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