[...]
- Como se tocar teus olhos fosse me convencer de que me vês.
- Não sei do que estas falando.
- Mas estou falando. Não estou escondido atrás do biombo que pintaste pra mim. Quero que me olhes agora. Que prestes atenção.
- Minha atenção é tua.
- Quando?
- Sempre que és minha companhia.
- Não creio que estejas sendo sincera.
- E o que crês então?
- Creio fielmente que de ti nada tem sido meu.
- Tens de mim o que buscaste ter. Não é o necessário?
- Tu preferes as estradas cheias de curvas. Entre uma e outra um pedaço teu se perde. É tudo que me dás. Sempre fico atrás de ti, correndo pra recolher o que sem perceber tu deixas escapar. Não me basta mais isso. Quero mais.
- Não dessa forma. Assim, não sei o que queres.
- Te quero por inteiro.
- Antes querias por pedaços.
- Agora sou mais forte.
- Meu peso não é o mesmo.
- É mais valido, e se tu não puderes me conceder o que te peço, vou sorrir com petulância e te dar as costas.
- Vou sorrir com tristeza e te dizer que sou o que posso ser, que só sei doar aos poucos, que somos diferentes. Não sou como tuas paixões que por vezes te afogam.
- Não costumas fazer só o que podes. Fazes muito mais, és muito mais do que esse pequeno corpo diante de mim.
- O que queres dizer?
- Exatamente o que digo. Não és só o que podes ser. Tu és. É isso que quero.
- Não creio que tu consigas ir embora.
- Eu também não. Mas por vezes não creio que estou ao teu lado, ainda que esteja.
- Quando irás?
- Quando me deres o que eu quero.
- Não estás sendo sensato.
- Se estivesse, já teria ido.
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